terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Uma longa história.

Tive uma infância maravilhosa, família simples e que me ensinaram muito, mas no fundo eu já vim para esse mundo com um fardo de responsabilidade e determinação a não carregar os outros com o que eu poderia suportar sozinha. Minha maturidade infantil ainda hoje me dói, mas me orgulha muito, não tive tempo para chorar mimos. Nunca desejei machucar ninguém (família e amigos) e sempre que pude deixei de faze-lo. Ainda na infância conheci o amor, amor puro e bonito, caminhos diferentes e o amor se perdeu na ausência. Na adolescência senti o primeiro não, era uma menina moleque, vivia pela rua, andava de roller e bicicleta, conhecia todas as lojas da cidade, tinha muitos amigos e alguns amores não correspondidos. Sempre fui considerada inteligente, tirava boas notas incluindo física e matemática, na escola pública conheci meu primeiro namorado, eu que pedi ele em namoro pois ele era devagar pra mim e eu gostava tanto da paz que ele me transmitia, uma sensação meiga e gostosa. Nessa fase da minha vida eu era do mundo e me via em primeiro lugar, hoje ainda olhando para trás não me reconheço mais como aquela garota que fui, a vida me transformou de mais, gostaria de recuperar aquela auto estima, aquela coragem, aquela sensação de que posso tudo e os outros (pessoas que não fazem parte do meu ciclo e ficam se metendo) que se ferrem se não gostarem. Bom voltando a história, eu fazia o que me dava vontade e não ficava com a consciência pesada por fazer isso, fiquei com outros garotos e um deles se tornou meu segundo namorado, terminar com o primeiro foi uma das tarefas mais difíceis que tive que enfrentar, não queria magoa-lo pois gostava muito dele, mas não podia ficar enganando ele, troquei um namorado infância por um namoro adulto, o primeiro não passou de passeios de mãos dadas e alguns beijos, nem mão boba tinha, o segundo fogo e chama, namoro conturbado e sofrido, ele  tinha muito ciúmes de mim, talvez muito seja porque acabei ficando com ele enquanto estava namorando o primeiro, somado ao fato de eu ser uma garota moleque, sempre no meio dos meninos. Mas isso mudou, a cada dia que passava ficava mais cega e viciada nele, me afastei dos meus amigos e vivia ele, fazia tudo pensando em o que ele ia pensar, se ia gostar, se ia brigar, nunca o traí eu o amava demais para pensar em fazer isso, seu ciúme me ensinou a posse e eu achava que assim como ele me cobrava eu devia cobrar ele também e a relação seguiu assim, um para o outro. Perdi contato com todos meus amigos no ensino médio, não passando da sala de aula, ele era tudo, ficávamos juntos no começo, intervalo e fim das aulas. Minha mãe sempre me apoiou, pois achava melhor eu em casa namorando do que correndo rua o dia inteiro, eu só tinha 13 anos na época, meus amigos passaram a ser os amigos dele e suas respectivas namoradas, ou algumas delas, eu que era uma menina alegre, extrovertida, que sempre fazia o que queria, sempre rodeada de amigas, me tornei fechada e triste, mas eu não sabia disso na época, pois o amor supria minhas necessidades e eu nem percebia a carência de vida fora relação, algumas das minhas amigas hoje, foram essas meninas guerreiras, namoradas dos amigos dele, que se esforçaram para adentrar ao meu mundo, tão fechado. Um amigo dele em especial me trouxe bons momentos ele tinha uma melancolia, que me atraia na sua amizade, parecia que ele podia sentir minhas dores e angústias, pensei que ele pudesse ver meu sofrimento, pensei que ele me entendia, e muitas vezes chorei nas madrugadas ao som do seu violão, mas hoje sei que ele não tinha noção do que eu sentia e vivia, ele não tinha noção de como a amizade dele era importante. Meu namoro quase podia ser dito que era a três de tanto que sua presença era constante, muitas vezes isso me irritava, pois eu desejava jantas românticas a passeios a dois, mas não, era a três, quatro ou vinte, ele era do mundo e eu era dele. Trabalhei em um mercado próximo de casa, conquistei minha primeira moto, pagando a prestação com quase todo meu salário, o que sobrava servia de doces, cachorro quente e filmes para o fim de semana, vivíamos bem nossa pobreza, ele morava no interior e veio morar comigo na casa da minha mãe para poder trabalhar, passou por alguns ateliers até decidir fazer um negócio próprio como seu pai fazia, mas ele estava determinado a ser alguém a crescer, e esse foi seu objetivo de vida. Eu desejava ter uma casinha, filhos e que ele tivesse tempo para sentar comigo no fim do dia para tomar um chimarrão em frente a casa. A família dele passou a ser a minha também, passei muito tempo com eles, ficávamos sempre junto independente de onde estávamos, a família dele era ainda mais pobre que a minha e ali eu aprendi muitas coisas, como tomar banho sem sabonete ou shampoo, comer ovos no almoço e jantar, aprendi a suportar muitas coisas as quais não gostava, ajudei a plantar e colher, ajudei até a carregar caminhão a pá, passei muitas enchentes e caminhei de madrugada em ruas desertas para pegar o ônibus para a escola, mas eu era feliz pois estava ao seu lado.
 Nasceu meu afilhado e eu amei esse bebê como jamais podia imaginar amar alguém, era um amor dolorido pela distância, mas quando eu estava com ele, ele era meu, eu o cuidava como um filho, filho que não tive, pois a casa precisava estar pronta, deveria estar casada, pois eu desejava tudo certinho, na ordem que eu acreditava que as coisas deveriam acontecer. Não fiz faculdade após o ensino médio, pois isso na visão dele era um desperdício de dinheiro, um investimento muito grande de tempo e dinheiro, pois com o dinheiro da faculdade ele poderia comprar uma máquina para expandir os negócios. Assim se passaram nove anos de namoro, entre juntar riquezas, administra-las e viver no ciclo da vida dele, eu não percebia como essa obsessão por dinheiro não condizia com minhas necessidades, em como eu preferia um final de semana em qualquer lugar que não fosse adiantando o serviço para segunda, tivemos brigas feias e uma delas foi por causa da praia, lugar que ambos gostávamos e que acredito ter ajudado a nos manter junto todo esse tempo, enquanto ele se divertia no mar eu sofria olhando a imensidão das águas, sentindo seu cheiro, o vento gelado soprando. Eu era uma pessoa triste e não sabia, só agora vejo, só agora percebo.
Casa substituída por condomínio, visando lucro e futuro, abri mão dos meus sonhos e como foi dolorido, não conseguia entender como meus sonhos não tinham importância nenhuma no caminho dele, no caminho do sucesso dele. Casamos e mudamos para esse apartamento, a lua de mel, programada para uma semana, durou quatro dias, ele não aguentou uma semana longe dos negócios, ele não aguentou uma semana só comigo. Dali pra frente as coisas só pioraram, eu não tinha minha casa, não tinha o marido no fim do dia para o chimarrão, não tinha nada do que queria, por incentivo dele comecei a faculdade, eu devia estar incomodando de mais, pressionando para obter algum sonho em tempo real, não para 20 anos, ele resolveu me ocupar além dos negócios burocráticos aos quais viva envolvida. A casa passou a ser feita, e muito jogo de cintura ali foi necessário, era com o meu sonho que estávamos jogando e ali eu não abri mão de tudo, ali eu ainda tinha alguma voz, alguma vida. O casamento terminou antes de a casa ficar pronta e como eu sofri por ter meus sonhos quebrados, violados, interrompidos, todo esse sofrimento ao longo dos anos, abrindo mão de tudo para conseguir ter uma casa uma família e quando tudo estava em fim tão próximo, acaba, é destruído. Eu achava que ele era uma pessoa integra, sempre o vi com os olhos do amor, achava que era sincero e acreditava em tudo que ele dizia veemente, sem duvidar. Ele não era tão certinho como eu pintava, ele mentiu, e essa mentira doeu mil vezes mais que as traições, essa mentira quebrou o encanto e eu acordei, acordei 13 anos mais velha, acordei sozinha no mundo, sem amigos, sem referências sem saber do que eu gostava o que eu queria e não queria dali para frente, acordei sem desejar acordar, era mais fácil viver sonhando um amor eterno e perfeito, era mais fácil achar que tudo daria certo um dia.
Atrasada alguns anos, voltei a sonhar os mesmos sonhos, fui buscando me encontrar, achei alguns pedaços no caminho, mas aquela menina alegre, extrovertida, e sem medos, nunca mais encontrei, aquela deve ter sufocado em tanta dor, em tanto amor sofrido e levado a ovos para não quebrar.
Encontrei meu terceiro namorado em meio a sorrisos, encontrei a paz que necessitava, a pessoa que fez eu me sentir linda e desejável. Não foi fácil conhecer outra pessoa, pois só tive um homem, e achava que tudo seria igual, não tinha noção alguma de quão diferentes as pessoas são, e eles são opostos, aprendi a amar na velocidade da paz, aprendi a ver que há outras pessoas que sofrem e que nem todas as pessoas são más, aprendi muito, e amo cada detalhe do meu atual namorado, mesmo odiando algumas atitudes irrelevantes e infantis, mesmo desejando que ele fosse diferente em alguns aspectos, hoje eu sei que ninguém é perfeito e sei viver com essas diferenças.
Agora estou correndo atrás do meu sonho, o sonho de ser mãe, tanto faz a ordem das coisas nessa altura do campeonato, mesmo que no fundo ainda desejasse que tudo fosse feito corretamente na ordem comum das coisas, minha vontade de ser mãe toma conta de mim, quero viver aquele amor dolorido que vivi com meu afilhado, quero ter novamente meu coração batendo em outro ser, eu já amo esse bebê, mesmo antes de ele existir. E esse texto todo veio com essa finalidade, por pra fora toda essa história que me corrói, toda essa vida em busca de uma família feliz, onde houvesse amor, companheirismo e respeito. Já consegui o amor o companheirismo e o respeito, só falta a família. Te desejo mais que tudo hoje meu filho, que você venha fechar essa história com felicidade, que você venha me fazer a pessoa mais feliz desse mundo!
Hoje eu sou livre para ser feliz, e vou dividir minha felicidade com você meu amor e com meu filho!
Essa espera está sendo muito sofrida, mas terei paciência, só para poder te ver, te tocar, te ver crescer e te ensinar o amor!
De alguém que nasceu para amar.
Nasceu para ser mãe. 

Espera

Os minutos estão sendo contados
Tentando mentir pra mim mesmo
Fingindo ser forte, fingindo não sentir
A cada ciclo, uma nova decepção
A cada decepção seu peso somado as anteriores
Fingir não se importar, não está funcionando
Fingir não perceber os minutos passar também não, pois...

Os minutos estão sendo contados
E não há como não vê-los passar
Posso até me distrair vezes ou outras
Mas eles estão lá somados, no fim das horas, no fim do dia.

A cada fim, a esperança de um novo começo
A cada fim, uma morte da esperança
Uma morte dos sonhos
A cada morte, dor expelida em lágrimas
Dor que transborda silenciosamente, parte deixando um novo começo
Parte e não me deixa.

Um sentimento de fraqueza, impossibilidade, incapacidade
Nem tudo sai como planejado e olha que planejamos.
Planejamos cada detalhe, cada minuto, planejamos e sonhamos
Sonhos foram feitos para serem realizados.

Mas onde está a realização do meu sonho
Eu fico esperando, sonhando e planejando
Eu fico sofrendo a cada vez que você vai embora
Fico aqui desejando ter a oportunidade de te ver
E esse amor ha tanto guardado, volta a transbordar, cansando de esperar.

Amor do meus sonhos
Amor dos meus desejos e planos, seja possível te ver, te tocar e te ver crescer.
Amor deixe-me te fazer feliz
Deixe-me ser feliz!

Passando por esses dias.

Venho passando, me arrastando por esses dias a fora.
A bagagem está pesada, esse fardo, vem caindo, vem pendendo.
A quantos dias, tomando decisões em capsulas.
A quantos dias deixei de tomar os remédios, deixei de tomar as dores, e as lágrimas.
Por essa estrada venho cambaleando, ora batendo contra as muretas, ora no centro da rota.
Nas suas mãos estou tentando deixar, meu destino, mas ainda não consigo desapegar da predileção.